sábado, 31 de agosto de 2013

Versões da Morte do Cisne

The Dying Swan, A Morte do Cisne




Michel Fokine, no ano de 1905, teve o privilégio de trabalhar esta composição ao lado de Anna Pavlova, uma das maiores dançarinas russas nascida em um subúrbio miserável de San Peterburgo. Eram vistos juntos, absortos na sua soberba tarefa, nos parques e jardins admirando cisnes e lendo, juntos, a poesia de Alfred Tennyson. O resultado de todo esse investimento é uma explosão de uma beleza interior indescritível: uma das peças mais belas já apreciada pelos sentidos humanos. Com pouquíssimos minutos de duração, “A Morte do Cisne” (nome que recebeu o formato final) ilustra os últimos momentos de um cisne ferido. Com uma graça quase impossível de ser executada pela anatomia humana, o ballet mostra um suave entregar-se ao seio do esquecimento: uma morte sem resistências, sem questionamentos inúteis, sem anseio de continuidade (dignidade quase impossível para humanos). A morte aqui é apresentada como evento da vida e se é verdade o que diz Carner, que toda arte é arte por nos ensinar a morrer, encontramos mais um atributo presente nesta peça que a torna imortal. A maioria de nós vive esquecidos da morte: como se ela não fosse conosco. A boa arte no entanto nos apresenta o verso: a vida entendida como perda e não como um somatório de coisas que devem ficar eternizando essa composição que um dia respondeu por um nome próprio e que como as demais coisas no universo deve passar.


Esquecidos da morte os homens deslembram-se da arte que morre em silêncio sem que a maioria se dê por isso. Em seu túmulo, as instalações e performances dançam um ritmo fugidio feito de som e fúria (desses nos entram violentamente pela janela e por meio das tantas fontes de ruído atuais) que em breve dará lugar a outra expressão igualmente irrelevante. A arte é um cisne ferido de morte que em sua dignidade não se recusa a passar.


Por Pedro Gabriel

(Fonte: http://lituraterre.com/2010/12/11/a-morte-do-ciste-a-morte-da-arte/)

Anna Pavlova (1881-1931) - Decidiu que seria bailarina aos oito anos de idade. Nomeada primeira bailarina depois de dançar O Lago dos Cisnes. Era uma bailarina lírica, com belos movimentos de braços e uma vivacidade única. (BOGÉA, Inês. Contos do Balé. São Paulo: Cosac Naify, 2007)

"Deus dá o talento, mas é o trabalho que transforma o talento em gênio."








A arte de surpreender...



A arte de fazer sorrir...



"No homem, escreve M. Sahlins, as mesmas motivações intervêm em diferentes formas culturais, e as mesmas formas fazem intervir motivações diferentes. Na ausência de correspondência invariável entre caráter da sociedade e o caráter humano, não poderia existir aí determinismo biológico."
(LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Tradução de Sonia M.S. Fuhrmann. 6.ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2012)


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