sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pra Você Eu Conto, Moacyr Scliar

“Para algumas coisas, Matemática, por exemplo, eu tinha uma dificuldade natural; nunca me dei bem com números. Raiz quadrada, por exemplo, era um mistério completo para mim. O teorema de Pitágoras? Um enigma. Eu fazia e refazia os cálculos e as operações dez vezes, vinte vezes. Sempre num clima de ansiedade: preciso sair bem nos estudos, porque a minha gente está fazendo sacrifícios e devo a eles esta satisfação. Ai, Deus, eu me sentia mal. Como me sentia mal. Muitas vezes, de noite, eu chorava, enterrando a cabeça no travesseiro para que meus irmãos não me ouvissem.”

“Dizem, Chico, que a melhor forma de transformar um inimigo em amigo é pedir-lhe um favor, e é verdade...”

“A Voluntários da Pátria era conhecida, naquele tempo, como o Caminho Novo. A rua margeava o rio em quase toda a sua extensão. Ali, no cais, atracavam as barcas que traziam frutas do vale do Taquari; ali funcionava também a estação ferroviária. Era uma rua de comércio, durante o dia, e de prostituição à noite.”

“Mas não morri. Como você vê, não morri. Morre-se de amor? Talvez. Mas não era o meu caso. Ao contrário: de repente, eu estava me apaixonando de novo.”

“E logo estávamos saindo juntos, e passeando de mão dadas pelo parque Farroupilha, no meio de tantos outros casais de namorados.”

Pra Você Eu Conto, Moacyr Scliar – São Paulo: Atual, 1990.

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